“Interlagos é um monumento da nossa história”. É assim que vamos começar o nosso post sobre o Velocult 2016. Quem disse foi Bird Clemente e não há frase melhor que defina o Autódromo José Carlos Pace.
Foi realizado na noite do dia 30 de março o coquetel que homenageia a pista, além de grandes nomes do automobilismo brasileiro. Idealizado por Paulo Soláriz, o evento, que está em sua sétima edição e como sempre muito bem organizado, levou ao Conjunto Nacional grandes carros de corrida, como a Brabham utilizada por Wilsinho Fittipaldi na Fórmula 2, modelos da extinta Divisão 3, além dos Opalas da Old Stock.
As cerimônias começaram por volta das 21:30hs, no Cine Arte, com um vídeo institucional da Petrobras, patrocinadora principal do Velocult – são quatro anos consecutivos. Depois os homenageados Tito Catapani, Artur Bragantini e Camilo Cristófaro (in memorian), representado por seus filhos Camilo e Wilma, gravaram suas mãos no Hall da Fama do Automobilismo.
Os pilotos que assinaram no Hall no ano passado receberam prêmios por seus esforços dentro da pista. Entre eles estavam Alex Dias Ribeiro, Alfredo Guaraná Menezes, Carol Figueiredo, Chico Lameirão, Raul Boesel e José Carlos Pace (in memorian). A noite ainda reservou espaço para outros nomes serem homenageados por seus trabalhos ligados ao automobilismo, como o jornalista Lito Cavalcanti e o fotógrafo Luca Bassani.
No fim do evento uma sabatina foi realizada com pilotos que fizeram história nas retas e curvas da antiga pista. O papo com eles foi simples e direto: como fazer para que Interlagos não termine em demolição? Chico Lameirão, Chico Rosa, Wilsinho Fittipaldi e Bird Clemente disseram o precisava ser dito sobre a atual situação do autódromo. Este último, e herói destes que vos escrevem, pediu o tombamento de Interlagos, para evitar o mesmo destino trágico de outras pistas, como o extinto circuito carioca de Jacarepaguá “Eu gostaria que Interlagos fosse tombado pelas autoridades. É um monumento da história do automóvel, assim como a estrada velha do mar e o caminho do Brasil Imperial tá preservado, pra não acontecer em Interlagos o que aconteceu no Rio de Janeiro”. A ideia de Bird foi apoiada por todos, inclusive por Wilsinho “como o Bird mencionou, acho que nós temos que tombar Interlagos pra ficar para a história. O que me preocupa muito e que a Fórmula 1 assinou contrato por mais quatro anos, e se a próxima assinatura não acontecer”.
Fittipaldi foi além. Pouco antes de apoiar seu companheiro de equipe Willys, Wilsinho criticou a reforma feita em 89, que assegurou a realização da principal categoria mundial em São Paulo um ano depois “acho que Interlagos perdeu muito com a reforma que teve. A pista antiga era maravilhosa. Era uma pista que tinha uma reta mesmo, 910 metros. Tinha curva de alta, curva de baixa. Hoje, na minha opinião, é um kartódromo gigante. Erraram quando fizeram a reforma, poderiam ter preservado a pista velha que era espetacular”. Ele ainda subiu o tom das críticas “parece que fizeram aquela reforma escondida de todos. Ficou o que ficou, mas nada com o autódromo antigo. Fazíamos (as curvas) a um e a dois, dava uma respirada, ufa!, uma a menos”
Chico Rosa, administrador à época da remodelação, apesar de também não concordar com o atual traçado, defendeu o projeto que pariu o “S do Senna”, “Se não tivesse um grande evento como a Fórmula 1, nós não conseguiríamos manter Interlagos intacto. Eu me lembro quando a Luiza Erundina assumiu a prefeitura. Grande parte do secretariado queria transformar Interlagos em residência popular, então a Fórmula 1 foi o jeito de preservar o autódromo vivo!”
Chico Rosa disse que não concordou com o desenho da pista, mas apoiou a obra para que a cidade continuasse com um autódromo “Tivemos que fazer grande parte da reformulação que foi feita em Interlagos, essa piora. Eu mesmo tive uma grande parcela de culpa nisso, embora a minha versão não seria essa. Mas o tamanho que Interlagos tinha para transmissões de televisões compatíveis com os níveis que a Fórmula 1 estava operando, vocês lembram que essa fase o Rio de Janeiro que realizava o grande prêmio, pra gente trazer isso pra trás, a modificação teve de ser feita. Não era a modificação que eu queria, mas foi a modificação possível. Então, realmente concordo, não tem curva de alta, é um autódromo, do ponto de vista do piloto, sem graça, sem desafio”
Entre críticas e elogios, Interlagos precisa da ajuda das autoridades competentes para continuar vivo. Apagar a história desportiva de um país deveria ser um crime contra a humanidade. Vender para a iniciativa privada, idem. Explico: pode ser que no início tudo seja lindo e maravilhoso. Limpo, organizado, preços justos para ganhar na quantidade afins, mas a partir do dia em que os prejuízos começarem a afetar o bolso de quem investiu, acabou. Muros serão derrubados, casas serão erguidas… e a história, minha, sua, de todos, vai ganhar um ponto final.
“Interlagos é um monumento da história. Foi em Interlagos que nasceu a história do automóvel nacional”, Bird Clemente.
Fotos:
Ricardo Varoli