O automobilismo brasileiro não anda muito bem das pernas nos últimos tempos. A categoria mais popular por aqui, a Fórmula 1, só conta com um piloto no grid que luta bravamente contra uma equipe que sempre o coloca em segundo lugar. As categorias de base estão jogadas às traças e os jovens pilotos ou tem grana ou não tem futuro. Mas ainda há alegria, e muita, em ver nossos pilotos correndo. A mais recente foi neste domingo, Tony Kanaan venceu de forma heroica as 500 Milhas de Indianápolis, uma das três mais importantes corridas da história do automobilismo.
Tony entrou para o panteão dos deuses tupiniquins que já venceram a prova. Agora ele está ao lado de Emerson Fittipaldi, Gil de Ferran e Helio Castroneves. Mas parece que há algo de especial em sua vitória.
A temporada não começou muito bem para ele. Conseguiu um quarto lugar em St. Peterburg. Depois ficou em 13º no GP do Alabama. No GP de Long Beach sofreu um acidente que resultou em uma grave lesão na mão direita, que o atormentou na corrida seguinte, em São Paulo.
Na corrida de São Paulo, mesmo com a mão machucada, o “Homem de Ferro”, conseguiu liderar a corrida. Cada vez que Tony passava pelo sambódromo a torcida vibrava, esperando ver um brasileiro ganhar pela primeira vez no circuito do Anhembi, mas o destino não quis, e uma pane seca fez seu carro parar bem em cima da linha de chegada. Ele não venceu, mas foi o principal personagem da corrida.
Vieram as 500 Milhas. Nos treinos ele conseguiu um discreto 12º lugar, mas em Indianápolis, tudo pode acontecer.
No domingo, dia da corrida, Kanaan conseguiu um ótimo ajuste do carro da KV Racing. A corrida foi absolutamente frenética com nada menos do que 69 trocas da liderança.
Ele andou na frente o tempo todo, alternando a liderança, como é típico em corridas ovais. O ritmo seguiu tenso e atingiu seu ápice nas últimas 20 voltas, como sempre. A 7 voltas do fim, um susto. Graham Rahal beijou o muro no lado interno da pista. Kanaan estava em segundo. Por sorte o carro de Rahal ficou na grana e a limpeza da pista foi rápida, mas a torcida ficou com o coração na mão por alguns instantes.
A relargada foi tensa, mas todos sabem que Tony é especialista em relargadas. Os carros seguiram atrás do Pace Car com Kanaan balançando atrás do então líder, Ryan Hunter-Reay, fazendo pressão psicológica. Com apenas 3 voltas para bandeirada final, relargada.
Kanaan logo pegou o vácuo de Hunter-Reay e pulou para primeiro, trazendo o estreante Carlos Muños consigo. A tensão foi a mil quando de repente a câmera se virou para mostrar o carro do tetracampeão Dario Franchitti se esfolando no muro. Nova bandeira amarela. Sem condições de limpar a pista antes do final da prova, não havia mais dúvidas, Tony Kanaan era o vencedor. As arquibancadas explodiram em Indianápolis! Todos vibram com a merecida vitória do guerreiro baiano. Foi incrível o apoio da torcida americana que gritou “TK” quando o carro preto do brasileiro passou pelos tijolos da linha de chegada.
Parabéns à Tony Kanaan, que agora vai ter sua “cara feia” esculpida na taça de campeão das 500 Milhas de Indianápolis. E muito obrigado por alegrar nosso domingo!
Sobre a prova:
Com a velocidade média de 301.644 km/h, Tony bateu o recorde de 23 anos estabelecido por Arie Luyendyk, tornando a 97ª edição da corrida a mais rápida de todos os tempos.
Helio Castroneves, que já venceu 3 vezes, chegou em sexto lugar.
Bia Figueiredo fez uma boa corrida e conseguiu sair da 29º colocação, para receber a bandeirada em 15º.
O estreante Carlos Muños chegou em segundo lugar na sua primeira corrida na categoria.
Alex Zanardi, outro herói, dentro e fora das pistas, levou sua medalha de ouro conquistada nas paraolimpíadas para dar sorte à Tony Kanaan. Deu certo!
A chegada da Indy Lights foi espetacular, com quatro pilotos alinhados na linha de chegada. Veja aqui.
Foto:
Getty Images
Nelson Paliarussi
Charge:
Maurício Morais