Não me lembro de ter tanta dificuldade para escrever um texto desde os posts sobre o McLaren F1. Às vezes, temos pouca informação para um texto e, às vezes, temos tanta, que fica difícil transcrever com o devido respeito as ideias para o GearHeadBanger. No caso do F1, foram quase 20 anos estudando o carro. Na nossa visita à Up Customs em São Caetano são décadas e décadas de paixão automotiva que são transmitidas ao aço por mãos mágicas que formam e reformam sonhos perdidos, mas não esquecidos.
Em uma ensolarada manhã de sábado, fizemos uma visita guiada por um galpão que deixa qualquer gearhead maluco: Mercurys, Dodges, Opalas, Mavericks… Muitas histórias boas foram contadas pelos simpáticos e solícitos Carlos, dono da Up, e pelo Sr. Aguiar, que tem uma experiência de dar inveja a qualquer um, começando pela modelagem do Willys Interlagos conversível, passando pelo Dart e Charger nacionais e até o Rossin Betin Vorax.
Ao entrar, demos de cara com um Maverick ainda no começo. O projeto é para o Luís, goleiro do São Caetano. O carro não manterá a originalidade, pois a inspiração do projeto são as linhas das novas Lamborghinis e de um caça americano. A pintura será feita com aerógrafo imitando as chapas de avião e os rebites da fuzelagem.
Fomos presenteados com o Sketch do carro que está aí em baixo, e o Carlos nos prometeu avisar quando a máquina estiver pronta.
Talvez o projeto mais famoso deles seja a réplica do Batmóvel, que apareceu no salão do automóvel do ano passado.
O carro não é nada simples. Para poder construir a máquina do Homem-Morcego, um Ford Landau é usado como base. Mesmo sendo um carro imenso, com dois quartos, sala, cozinha e área de serviço, o bichão ainda precisa ter o entre eixos esticado para que possa ser acomodada a imensa carcaça de fibra de vidro que é feita toda do zero. Por falar em fazer do zero, quase tudo lá é feito do “nada”. São necessárias horas e horas de marteladas e lixadas em aço e fibra para que os carros tomem forma. Os projetos começam no computador e o quebra-cabeça de milhares de peças feitas a mão é montado no mundo real.
Para finalizar, Carlos faz um excelente trabalho de pintura. Nem encostando a ponta do nariz na carroceria dos carros é possível ver um defeito. Só a poeira, que é subproduto de trabalho árduo, deixa os carros um pouco imperfeitos, mas nada que uma lavagem e uma encerada não resolvam o “problema” antes dos carros irem para as exposições.
Adiante, um Opala restaurado mostra mais detalhes interessantes como bancos em Alcântara, e as imensas rodas cromadas, que viraram moda, mas não agradam muito a estes que vos escrevem.
Carlos explica que a “sorte” dos donos destes muscle cars é a maciez por natureza dos bólidos, porque com pneus de perfil tão baixo, o carro vira uma tábua.
Mais para o fundo da oficina achamos um tesouro: um Mercury Monterey Coupe 1950 que será restaurado para ser uma réplica do usado por Silvester Stallone no filme de 1986 – Cobra (intitulado no Brasil, Stallone: Cobra – “Você é uma doença, e eu sou a cura!” – lembram?).
O carro estava parado em uma chácara e necessita de muito trabalho. Olhando o assoalho, dá para ver o chão e dos bancos só restaram um monte de ferro retorcido. Em compensação, o painel é original, assim como o V8 sob o capô, que por mais estranho que pareça, funciona! Na gambiarra, por enquanto.
O carro, um dos mais belos por lá, mesmo todo enferrujado, impressiona, é imenso. Só o capô deve ter a mesma quantidade de aço que um Mille.
Também lá no fundo da oficina, perto do Mercury, uma Parati está quase pronta. O dono pediu as mesmas linhas e desenhos de um Gol GTI, ficou bem bacana, e único. Nesse carro dá para ver bem o cuidado com os detalhes, pois fazer e refazer as linhas na lateral do carro é complicado. Com o tempo, alguns carros com mais de 50 anos, vão perdendo as “linhas de cintura”, porque lixa, pinta, bate, conserta… Se o trabalho não for bem feito, o que não é o caso da Up, o carro perde suas feições, seus detalhes, e fica liso.
O próximo carro é um Dodge Dart 1979. O Sr. Aguiar conhece bem o carro, pois na época em que o trouxeram para o Brasil, foi dele a responsabilidade de fazer o modelo brasileiro, assim como outros carros da marca, como o Charger nacional.
Mais uma vez, os detalhes impressionam. Quando a porta foi aberta, o cheiro de couro saiu de dentro, e, em um olhar mais apurado, vemos que os bancos da frente foram substituídos pelos assentos eletrônicos do Tempra, mas só se nota pelos comandos na lateral.
Para completar, rodas Foose 20 polegadas. Parece um carro digno de cafetão americano.
Além das restaurações, o pessoal de lá também faz protótipos para modelos nacionais de grandes montadoras, o que dá trabalho: “Não podemos nem usar celular aqui quando temos carro de montadora. Ninguém estranho pode entrar”, conta Carlos. Isso porque ninguém quer ver seu segredo estampado na capa de nenhuma revista ou jornal. Além disso, quando tem carro de montadora lá, não podem mexer em mais nenhum projeto.
Mais uma vez (a primeira foi na Amoritz GT), vimos o quanto existem pessoas apaixonadas por carros, e o quanto é legal ver de perto como eles são feitos. Constatamos que a principal peça de uma bela máquina é a paixão, além de qualquer outra coisa.
Aguardem os posts seguintes com os carros prontos!
Agradecimentos ao Ricardo Aguiar que conseguiu a pauta e o contato.
Fotos: Nelson Paliarussi, Ricardo Varoli e Divulgação Up Custons.
Excelente texto! Conte comigo quando precisar. Abraços
Mais uma vez, obrigado!
Olá gostaria de saber qual o enderço da loja em up custons.
Grato Rafael.
Rafael, infelizmente, até onde eu sei. a Up Customs fechou. Eu tentei contato com o Carlos (dono) várias vezes mas não consegui retorno.
Até queria fazer matérias com carros prontos, mas não deu.
Obrigado pelo comentário!
Alguem tem o contato do carlão?
Telefone e e-mail que tinha dele não dão retorno.
ABS!