Lada Laika – O Comunista Móvel

Mother Russia, Dance of the Tsars, Hold up your heads, Be proud of what you are…
Então a Motherland chama novamente.
Comunismo, mísseis, caçadas à outubros vermelhos, Perestroika, AK-47, cidades que brilham no escuro… Parece que a União Soviética e a Rússia sempre têm algo de interessante e peculiar para contar. Mas, caros amigos, vou contar sobre o camarada vermelho motorizado, o Lada Laika.

A história do автомобиль começa em 1970 e pode ter seu fim, 41 anos depois, em 2012 (está aí a explicação do fim do mundo).

O VAZ-2101 que deu início a história do Laika

O Laika veio do VAZ 2101, que era uma semi-cópia do Fiat 124. Deram uns tapas na carinha bonita e ele ficou, quase, como o conhecemos hoje. É fabricado pela AutoVAZ e teve versões sedan e station wagon (perua, se preferir).
Foi concebido para ter alta confiabilidade mecânica, baixo custo de manutenção e o mais importante, ser barato. Como não tinha concorrência na Rússia, nunca tiveram a preocupação de deixá-lo bonito aos olhos. No melhor estilo comunista, se funciona, não tem porque ser bonito.

A versão station wagon - Dá para levar a coleção inteira de "O Capital" e ainda sobra espaço para as crianças

A mecânica é da época da cortina de ferro, praticamente intocada até hoje. Seu interior espartano soviético é algo que sobreviveu ao tempo de forma gloriosa, afinal, para que frescurites quando se tem um voltímetro no painel (saber os volts da bateria deve ter alguma utilidade na Sibéria – Ver update abaixo) e um toco de ferro que alegraria uma briga de bar que a AutoVaz chama de alavanca de câmbio?

Painel com o tal do voltímetro bem no centro

Tive a feliz experiência de pilotar um. Meu sogro comprou um branco geladeira (literalmente, porque devem ter repintado com rolinho) e deixou eu dar uma volta. Ao pisar no acelerador você tem a impressão de pilotar um tanque de guerra, o quatro cilindros 1.6 parece ter força para subir parede e cuspir no olho de um Hummer H3 (porco capitalista!). O engate das marchas é suave e preciso como vodka barata rasgando a garganta. A suspenção macia me fez lembrar a cama do quartel. E o som, ah, sim o som, como descrever… Hummm, imagine a Sinfonia nº 9 de Beethoven tocada por uma orquestra de AKs 47. Como falou um cara pedindo dinheiro no farol à minha mulher (também revisora deste blog): “Moça, esse é o carro mais barulhento que passa por aqui”. Esse cara devia estar conspirando a favor dos americanos.
Apesar dos pesares, é um carro incrível, rodou pelas estepes, corridas, ralis, e passou pelo seu maior teste nas ruas esburacadas de São Paulo.
Daí você me pergunta, já que é tão incrível, por que aqui no Brasil teve má fama? Bom a importação terminou de forma súbita, jogando seu valor no chão e ficou difícil de achar peças.

Laika preparado pela Lotus em mais um episódio cômico do Top Gear

Fiquem com o vídeo da propaganda de 1990. (“O design é de graça” – queria conhecer o autor da brilhante frase, marqueteiro de dar inveja a Dietrich Mateschitz)

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DAS VIDANIA!

UPDATE!!

Em conversa nos comentários do blog Jalopnik com o 1k2, descobri para que serve o voltímetro do nosso glorioso carro vermelho! (não falo da cor da lataria). Ele realmente tem função na gélida Sibéria.
O voltímetro serve para monitorar o funcionamento de componentes elétricos do carro, principalmente a bateria, que sofre muito com o frio.
No frio os componentes químicos da bateria se alteram, diminuindo sua potencia e vida útil, além disso, há um esforço maior para dar a partida.
O voltímetro mostra o estado da bateria pelo pelos volts, segundo o 1k2, “a maioria tem escala entre 9 e 15 volts. A bateria tem tensão por volta dos 12V e o sistema costuma trabalhar entre 12 e 14 volts. Se o voltímetro estiver abaixo de 10volts significa que sua bateria está arriando” e ele também falou da dificuldade de dar a partida em baixas temperaturas: “Mesmo com gasolina os carros custam a pegar lá, a ponto de ter gente que usa um maçarico (!!!) para aquecer a mistura ar-combustível e aí sim dar partida no possante.”

Muito obrigado 1k2!

Se quiserem ver a conversa na integra: http://www.jalopnik.com.br/conteudo/relogios-e-relogios-pra-que-servem-parte-2#IDComment342688614.

Também segue um vídeo sugerido pelo 1k2, onde Vladmir Putim não consegue fazer pegar um Lada Granta em um evento:

 

Fontes das fotos:
http://4.bp.blogspot.com/_bTjDjZ_j39s/TBf_NclxIsI/AAAAAAAAAcw/176YhFk3p5Q/s1600/autowp.ru_lada_riva_1600slx_sport_1.jpg
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/08/Lada_Riva_1500_Estate.JPG
http://lotusespritaddiction.unblog.fr/files/2007/12/ladalotus1.jpg
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/62/TranslinkLada.jpg
http://www.decadade70.com.br/loja2/popup_image.php?pID=2226&osCsid=c023169893054144e78cc1f65e24dffe

11 pensou em “Lada Laika – O Comunista Móvel

  1. Tcheto

    Fico imaginando como seria o Lada hoje em dia em termos de design na caso da União Soviética ter vencido a Guerra Fria. Ou, pelo menos, se tivesse mais forte economicamente.

    Será que ia mudar muito?

      1. Giovani Teixeira

        Como disse, o Laika (2107) ainda é vendido 0km por lá. http://lada.ru/cgi-bin/models.pl?model_id=4935&am

        De diferente, só um facelift na grade dianteira.

        O carro é 'bastante' vendido em regiões mais frias e afastadas, devido ao fato de ser um carro que dá partida no extremo frio e por ter uma mecânica mais simples e conhecida, como a VW aqui.

        Outro irmão que permanece vivo como o velho Ozzy é o Niva (Depois que a GM comprou o nome, passou a se chamar Lada 4×4). Os motivos? Os mesmos, com a diferença que o 4×4 ainda tem desempenho considerável e não deve sair de linha nem tão cedo.

        Uma vez, conversando com uma gerhead russa de intercâmbio por aqui, do metal, é claro – conheci a mulher perfeita e deixei escapar – ela me disse que o pai dela recentemente havia trocado a BMW X5 por um Lada 4×4 0km, só com direção hidraulica pelo equivalente a 23 mil reais.

        O motivo? O mesmo.

      2. Ricardo Varoli-GearH

        Obrigado pelo comentário Giovani!

        Eu acho bem bacanas os Ladas, simples e funcionais. Acho isso mais importante do que frescuras, principalmente quando você está perdido na tundra siberiana.
        Foi um carro feito para ser simples e durar, como tudo no comunismo.

        Sobre a GearHeadBanger russa, se ainda tiver contato, fala que o pai dela é muito "trueza"! E se gostou tanto dela, compre um Niva e vá até lá!

        PS.: "Outro irmão que permanece vivo como o velho Ozzy é o Niva" = muito bom hahaha

  2. playrp

    Os Ladas tiveram a convivência com outros patriotas como os ZAZ que copiaram o fusca na mecânica e o Corvair na aparência, os Moskovitz que tinham como base o Opel Kadett (o ancestral espiritual de nosso querido Chevettinho) que estavam uma escala acima dos Ladas em grau de conforto. Tinham também os Gaz que serviam os membros mais abastados do PC russo e para coroar as limusines Zil, com mecânica baseada nos Packard americanos, de onde compraram o ferramental (antes da guerra fria) que servia de transporta para as mais altas autoridades da então potência comunista. Não lembro se algum camarada como a Wartburg, a Tranbant, a FSO dentre outras, além da Dacia, chegaram a ser vendidas por lá. Obrigado pela referência.

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